quinta-feira, 29 de maio de 2014

Ditadura: POR TRÁS DA CENSURA

A censura esteve presente no Brasil desde sempre, sendo ela cultural ou política, mas houve uma variação dos aspectos de acordo com os tempos, desde a colonização até hoje. O período mais criticado em relação à censura hoje é a ditadura, possivelmente porque além de recente é marcado pelo governo militar negativamente frisado em nossa história.
Mas sem dúvida não se sabe muito sobre essa fase, certo? Pois o governo encobriu a maioria das informações públicas sobre o que seria o "permitido" no cinema, teatro, jornal e até músicas. Para explanar a compreensão de tal tema, vamos lhe mostrar opiniões de uma ex-censora da área teatral e também dados escondidos pelos militares mostrados pela mesma.

Comecemos com a compreensão da censura na ditadura. 

O que era a censura das áreas, e porque acontecia?
Censura não é simplesmente o ato de vetar algo, tornar inacessível, negando as opiniões. A censura é vista do ponto político como proteção, não do governo, mas do povo, impedir que o povo seja "poluído" pelas ideias passadas pelos jornais, músicas, filmes e peças de teatro.

Como a censura acontecia?
A censura acontecia de maneira moderada em relação a simplicidade, os censores eram instruídos e estudavam os artigos e leis dos atos institucionais para fazer um julgamento justo, antes do ensaio geral que seria a apresentação da peça, filme ou música reservada aos censores, era preciso mostrar uma apresentação prévia do script, para dar a entender sobre o que a apresentação se tratava e para os censores fazerem ajustes nas falas que não estavam de acordo com as normas da censoria. Após o ensaio geral os censores dão a aprovação ou o veto para a exibição. 

Quais eram as classificações da censoria?
A censoria era dividia em três partes: Teatro & Cinema, Televisão e Publicações públicas periódicas.
Teatro & Cinema era classificado em: A, B, C, D ou E, para idade sendo A livre e E proibido para menor de 18 anos.
Televisão também de A a E, mas ao invés de classificação etária, funcionava por horários permitidos para exibição, sendo A livre, B para depois das 20 horas, C para depois das 21, e com aumento graduado de 2 em 2 horas até E.

Publicações públicas periódicas eram mais complicadas, com classificação de C (14 anos), D (16 anos) e E (18 anos), as classificadas em E, iriam para uma central da censoria onde os superintendentes fariam as análises para com o Artigo 2º da Disposição Preliminar, que convém de:
" Parágrafo único - Uma das faces do invólucro, deve conter:
1 - o logotipo da publicação e o número exemplar
2 - o número do registro do título da publicação na Censura Federal
3 - o país de origem e o nome da editora, com o respectivo enderêço, se fôr o caso, também o nome do enderêço da firma importadora"
De acordo com o Artigo 4º das disposições preliminares do censor do livro Censura Federal de 1971 
- "As comunicações de interação social devem ser analisadas no seu todo, considerando-se:
I - o tema e o seu desenvolvimento
II - a mensagem principal
III - as linguagens visual e auditiva, utilizadas na sua produção e realização
IV - Valor educativo: se moral, artístico, histórico, cultural, etc...
V - o poder de comunicabilidade com a audiência, em função da capacidade de compreensão da faixa etária com que se pretende comunicar".

E de acordo com o Artigo 5º, os planos seguidos seriam:
Mensagem principal e complementar
- Para principal: Persuasiva ou de Entretenimento
- Para complementar: de Imagem ou Auditiva


A censura teve grande impacto negativo na população por causa das peças de teatro, filmes, músicas vetadas sem necessariedade, das publicações de jornais que sem liberdade tentavam mostrar quais eram as barbaridades cometidas pelo governo com medo de revoltas, e os atos terroristas de estado "caçando" os "opostos". Mas a culpa não está nos censores, e vou mostrar por que.
- Todas as informações a seguir foram fornecidas por uma ex-censora-

Não era por completo a censoria que vetava as exibições, o governo fazia grande pressão nos censores para que nada errado passasse. Muitas vezes exibições de teatro e música eram vetadas, mas os principais motivos eram linguagem agressiva excessiva, anti-patriotismo, julgamento negativo do militar e agressão psicológica a algum cidadão.
“O caso da peça Tupac Amaru de 1977 não foi culpa da censoria. Como de costume foi recebido o script e foram feitas as alterações necessárias, após a apresentação geral a peça foi aprovada, mas após a primeira apresentação ao público, o superintendente obrigou o veto da peça por conteúdo inadequado. Tal conteúdo não estaria em nossa instrução, pois se tratava da ideia da liberdade, como a peça simbolizava uma luta pela liberdade, a peça teve que ser vetada."

Muitas peças e músicas que simbolizavam a imagem da liberdade, ou uma luta, eram vetadas, pois o estado temia que a população se inspirasse com uma ideia de "revolução".


Fonte:
Livro - censura & liberdade de expressão. Coriolano de Loyola Cabral Fagundes
Livro - CENSURA FEDERAL. Carlos Rodrigues, Vicente Alencar Monteiro e Wilson de Queiróz Garcia
Ex-Censora - não concordou em publicar o nome.

quarta-feira, 28 de maio de 2014


Melodias censuradas durante a ditadura no Brasil

Na década de sessenta, o Brasil era devastado por um golpe militar de direita contra o qual toda a intelectualidade ligada à esquerda se mobilizou. No campo da arte, começa a ser produzida musicas que protestavam por meio da decomposição da letra, e a análise de mensagens subliminares embutidas nas canções. Essa época também foi marcada por agitações no campo político-social do país. Surgia na população uma vontade de participar ativamente da política interna, em várias camada da sociedade. Os movimentos realizados por estudantes são intensificados e passam a agir junto ao povo.

Durante esse período de ditadura militar, mas principalmente depois da publicação do Ato Institucional N°5 (AI-5) que dava totais poderes ao governo e retirava dos cidadãos todos os direitos, muitos cantores, compositores, atores e jornalistas foram "convidados" á deixa o Brasil. A repressão a produção cultural punia qualquer ideia que pudesse ser interpretada como contrária aos militares, mesmo que o conteúdo não tivesse caráter político. Por conta disso os militares foram capazes de prender, sequestrar, tortura e exilar artistas e intelectuais. 

  • A música Alegria, Alegria de Caetano Veloso, foi lançada em 1967. Ela valorizava a ironia, a rebeldia a partir de fragmentos do dia-a-dia.  Nos versos são possíveis analisar, as opressões aos cidadãos em todas as esferas sociais. A letra critica o abuso do poder e da violência, as más condições do contexto educacional e cultural estabelecido pelos militares, aos quais interessava formar brasileiros alienados.
Trecho: O sol se reparte em crimes/Espaçonaves, guerrilhas/Em cardinales bonita/Eu vou...


  • Caminhando (Pra não dizer que falei das flores) é uma musica de Geraldo Vandré e foi lançada em 1968. Vandré foi um dos primeiros artistas a ser perseguido e censurado pelo o governo militar. A musica se transformou em um hino para os cidadãos que lutavam contra o regime. Através dela, Vandré chamava o publico à revolta contra o regime ditatorial e ainda fazia fortes provocações ao exército. 

Trecho: Há soldados armados/Amados ou não/Quase todos perdidos/De armas na mão/Nos quartéis lhe ensinam/Uma antiga lição: De morrer pela pátria/E viver sem razão/.../Então vem vamos embora/Que esperar não é saber/E quem sabe faz na hora/Não espera acontecer.

  • Mosca na sopa é uma música de Raul Seixas e foi lançada em 1973. A letra faz uma referência clara à ditadura. através de metáforas, onde o povo é a "mosca" e a ditadura é a "sopa". Desta forma, o povo é apresentado como aquele que incomoda, que não se pode eliminar, pois vão sempre existir aqueles que se levantam contra os regimes opressores.

Trecho: E não adianta/Vir me dedetizar/Pois nem DDT/ Pode assim me exterminar/Porque você mata um/E vem outra em meu lugar...

  • Depois de Geraldo Vandré, Chico Buarque se tornou o artista mais odiado pelo governo militar. Apesar de você foi lançada em 1970. Para driblar a censura, ele afirmou que a música contava a história de uma briga de casal, cuja a esposa era muito autoritária. A desculpa funcionou e o disco foi gravado, porém os oficiais do exército logo perceberam a real intenção e a canção foi proibida de tocar nas rádios.

Trecho: Quando chegar o momento/Esse meu sofrimento/Vou cobrar com juros. Juro!/Todo esse amor reprimido/Esse grito contido/Esse samba no escuro.

Assim chegamos ao fim da década de 70 com um imenso empobrecimento cultural. Percebe-se que os valores ainda são os mesmos dos anos 60. Os artistas não podem se expressar. Durante a ditadura. Porém, os músicos encontraram nas canções de protesto o meio para defender seus direitos. Isso faz com que a produção musical fique muito mais intensa nesse período, ao contrário com o que ocorre em outros setores como, por exemplo, no teatro, no cinema. Literalmente os artistas ficam fadados ao silêncio.

  • Se deseja ler algo para se aprofundar mais no assunto, sugerimos a leitura do livro Cala-se: Mpb e Ditadura Militar, que trata das letras das canções compostas na época da ditadura, reforça a importância da música como ferramenta de comunicação.



Bibliografia:
http://www.mundoeducacao.com/
http://www.historiadigital.org/
http://musicaepoliticanaditadura.blogspot.com.br/
http://literatortura.com/


segunda-feira, 26 de maio de 2014

AS ARMADILHAS DO TOTALITARISMO

AS ARMADILHAS DO TOTALITARISMO

Pretendemos aqui fazer uma breve análise do contexto sob qual se encontrava o Brasil à época do golpe militar de 31 de março de 1964, para entender quais motivos levaram os militares a tomar o poder do país.   
Durante a era JK (1955 a 1961) que teve Juscelino Kubistchek como presidente da república, o Brasil explodiu em sonhos. Levantou pela primeira vez a Copa do Mundo (1958), conheceu a genialidade de Pelé, Garrincha, Tom Jobim, João Gilberto e Vinícius de Moraes. Viu nascer o Cinema Novo de Glauber Rocha e a arquitetura brilhante de Oscar Niemayer. O Brasil finalmente ganhava rosto e contornos dos quais podia se orgulhar. De quebra ainda, JK prometia avançar o país “50 anos em 5” e mudar a capital federal do litoral para o centro do país. De fato, JK foi o grande promotor e incentivador do desenvolvimento da indústria automotiva no Brasil e o brasileiro em seu governo recebia o maior salário mínimo da história até então. O Brasil explodia em crescimento e confiança. Eram os “anos dourados”. Entretanto estes anos de irresponsabilidade fiscal (o governo sem controle fiscal gastava muito mais do que arrecadava) apresentaram uma conta amarga que veio sob a forma de inflação e déficit público. A fim de cumprir seus compromissos e pagar as suas contas, o governo precisava buscar recursos (dinheiro) e se financiar, aumentando assim a dívida pública do Brasil. Sob este cenário elegeu-se Jânio Quadros utilizando como tema uma vassoura para “varrer” a corrupção que denunciava na construção de Brasília. Com as finanças do país abaladas, Jânio encontrou muito mais dificuldades para concretizar as promessas feitas durante a eleição do que ele próprio imaginava. Durante seu governo buscou aproximar-se dos movimentos nacionalistas e de esquerda, apesar de declarar exatamente o contrário. Reaproximou o Brasil a países socialistas como a União Soviética, apoiou Cuba na grave crise contra os EUA e mandou João Goulart em missão oficial para a China. Com pouco êxito e sem apoio popular, Jânio Quadros renunciou em 1961. Quem deveria assumir era seu vice, João Goulart, porém os militares extremamente incomodados com a crescente aproximação do governo à esquerda, se opuseram e tentaram impedir sua posse, somente assegurada pela instauração de um parlamentarismo arranjado de última hora. A volta do presidencialismo, confirmada por plebiscito em janeiro de 1963, deu novamente amplos poderes a João Goulart. Daí para frente, a crise política só se agravou. Com a economia se deteriorando cada vez mais, Jango encontrava dificuldades em governar.
Ele pregava que através das chamadas reformas de base, as desigualdades sociais seriam reduzidas e um novo crescimento na economia seria gerado. Porém, cometeu uma notável sucessão de erros. Um deles foi o famoso Comício da Central do Brasil, no dia 13 de março de 1964, no qual foram assinados dois decretos diante de 300 mil pessoas: um que consistia na desapropriação de refinarias que não pertenciam à Petrobras e outro que declarava sujeitas à desapropriação pelo governo, terras consideradas subutilizadas, apontando e criando condições para uma reforma agrária. Estes decretos foram considerados arbitrários, nacionalistas e pela exagerada utilização do poder, apontavam uma tendência de novos atos ditatoriais e extremos, como os praticados por exemplo, por Hugo Chávez e seu sucessor, Maduro à frente da Venezuela em suas tentativas frustradas de resolver os graves problemas da Venezuela, através de um regime ditatorial de extrema esquerda. Com estes decretos, Jango avançava de forma perigosa no marco regulatório, no direito de propriedade e gerava ainda mais insegurança, em um ambiente já extremamente deteriorado.
As tensões eram graves, o governo não governava, as críticas vinham de todos os lados. Os militares começaram a ganhar forte apoio civil, especialmente na classe média urbana. Até que em 31 de março, com um movimento sem resistência, em poucas horas, os militares tomaram o poder.
Passados 50 anos, fica claro que a fragmentação do partido de centro da época, o PSD contribuiu para uma polarização e acirramento entre a esquerda e direita. Cada vez mais pressionado pela ala radical da esquerda, pelas forças nacionalistas, bem como pelos sindicatos, Jango virou uma marionete e abdicou de governar o país e reestabelecer um padrão de governo que promovesse a ordem e o desenvolvimento.
Com greves e paralizações pipocando quase que diariamente, Jango parecia conseguir o impossível, ou seja, desagradar a todos, inclusive à própria esquerda e aos sindicatos que pressionavam por novas medidas em um ritmo mais acelerado para tentar conter a crise. Fica claro que nos últimos meses, pressionado, quase que em desespero, Jango adotou uma postura ainda mais populista, mas que na verdade gerou mais intranquilidade e preparou o cenário para o que culminaria com a sua deposição do governo e tomada do poder por uma junta militar.
É inegável que sob o comando dos governos militares o Brasil conseguiu retomar o caminho do desenvolvimento e conheceu durante alguns anos um crescimento econômico importante e avançou significativamente em áreas como planejamento, infraestrutura e saneamento.
Porém, com a primeira grande crise do petróleo a partir de 1974 o Brasil começa a enfrentar novamente dificuldades econômicas que o levaram a perder mais uma vez o controle da inflação e a contrair uma crescente dívida externa.
O processo de transição do regime militar para a democracia culminou com a eleição direta do primeiro presidente civil desde 1964, o mineiro Tancredo Neves. Porém mesmo eleito Tancredo Neves, não assumiu, pois veio a falecer antes disto. Assumiu a presidência do Brasil em seu lugar seu vice José Sarney.
Entre 1982 e 1994, o Brasil assistiu a diversas tentativas fracassadas e planos econômicos para acabar com a inflação, finalmente em 1994, com o Plano Real, o desafio da inflação foi vencido e a economia estabilizada.
Olhando para os anos do regime militar, ainda que sob o pretexto de estabilizar a situação e colocar o país novamente em seu curso natural de desenvolvimento, o período da ditadura militar foi marcado pela concentração de poder, por diversos excessos, pela censura às artes e liberdade de expressão e outros atos incompatíveis com o que se espera de uma democracia.
Passadas cinco décadas do Golpe Militar, fica a lição de que nenhum regime totalitário e ditatorial, seja de esquerda ou de direita encontra receptividade e simpatia no povo brasileiro que convive melhor com regimes democráticos que garantam a capacidade de escolha e respeitem os princípios de liberdade de todos os indivíduos. Acima de qualquer preferencia política pelo socialismo ou capitalismo, o totalitarismo é tão nefasto que deve ser combatido.


Joseph Stalin e Adolf Hitler são dois exemplos de líderes totalitários de suas épocas e sob o comando dos dois, o mundo conheceu atrocidades inadmissíveis.
·         Totalitarismo (ou regime totalitário) é o sistema político no qual o Estado, normalmente sob o controle de uma única pessoa, político, facção ou classe social, não reconhece limites à sua autoridade e se esforça para regulamentar todos os aspectos da vida pública e privada, sempre que possível. O totalitarismo é caracterizado pela coincidência do autoritarismo (onde os cidadãos comuns não têm participação significativa na tomada de decisão do Estado) e da ideologia (um esquema generalizado de valores promulgado por meios institucionais para orientar a maioria, senão todos os aspectos da vida pública e privada).


 Gabriel Pestana, Helena Bernardes, Isabela Messias, Jéssika Fortes, Marcella Tavares e Victoria Naef..

sexta-feira, 23 de maio de 2014

21 anos de sofrimento

“Cadeira do Dragão, Pau-de-arara, Choques elétricos, Espancamentos, Cama cirúrgica, Afogamentos, Soro da Verdade, Geladeira, Arrastamento pela viatura, Coroa-de-cristo, Estupros, Humilhações, Abusos sexuais...”. Esses são exemplos das torturas feitas a todos aqueles que eram considerados subversivos pelos militares, mas não representam nada, com relação ao sofrimento ao qual os que pensavam diferente foram submetidos.
Durante o regime militar, foram utilizadas algumas técnicas de controle social, sendo a tortura, uma delas, instalando-se no Brasil desde o primeiro dia que foi dado o golpe, em 1 de abril de 1964.
Através da censura e da propaganda manipulada, os militares controlavam grande parte da população, alienando-os, porém, ainda existiam grupos opositores, que não se deixavam gerenciar por essas formas de dominação social. Instaurando o medo, os militares mantinham parte dos opositores, calados.
Mesmo assim, ocorreram manifestações, protestos e lutas em prol de uma liberdade que muitos, durante o regime, não se lembravam, ou nem conheciam. Quanto mais tempo durava o regime, mais pessoas faziam oposição às barbaridades por ele cometidas.
Estudantes, padres, intelectuais e vários setores da sociedade passaram a contestar os militares, e a resposta era a intensificação da tortura, consequentemente, a sofisticação dos métodos ocasionava aumento no número de mortos.
Dentro dos porões da DOI-CODI foram feitas verdadeiras atrocidades contra pessoas, em sua maioria, culpadas por brigarem pelo direito de pensar e de ser o que se é, além de indivíduos culpados apenas por estarem no lugar errado, na hora errada, entre esses, muitos nem sabiam o que era comunismo, principal acusação contra os subversivos.
Nestas salas, muitas mulheres foram submetidas à impotência de ver seus filhos, entrando naquele ambiente imundo, sem entender porque suas mães encontravam-se nuas, extremamente machucadas, completamente aterrorizadas, e não poder fazer nada para evitar aquela visão.
Homens e mulheres foram forçados a ver seus companheiros sendo molestados por diversos torturadores, sem poder impedir.
Pais que não tinha a certeza do estado de seus filhos, nem se os encontrariam novamente foram obrigados a ouvir histórias de como os militares arrancariam a vida de suas crianças caso não colaborassem fornecendo informações úteis.
Grávidas foram obrigadas a dar seus bebês à parentes, sem ao menos segurar a criança, ou acabaram sofrendo aborto espontâneo devido a truculência dos torturadores.
Muitas vezes, as improbidades só terminavam com a morte do torturado, porém a angústia de familiares e amigos, dificilmente cessava, já que estes não detinham nenhuma informação sobre o estado ou localização de seus entes, nem antes ou depois da morte.
O militares preocupavam-se não apenas em desenvolver métodos sofisticados de tortura, mas em desenvolver a propaganda do “culpado”, sendo cada torturado seu próprio culpado.
O temível comunista que ameaçava a família, os bons costumes, a segurança nacional, e acima de tudo, a “Ordem”, assim, criava-se um preconceito contra os opositores, tornando-os merecedores de todos os suplícios que lhe eram impostos em uma sala de tortura.
Já os recrutados para exercer a tortura recebiam favorecimentos dos seus superiores, gratificações e reconhecimento de heróis, pois ajudavam a livrar o país da ameaça comunista.
Para resolver o problema dos mortos, médicos legistas passaram a fornecer laudos falsos, que escondiam as marcas da tortura, justificando a morte da vítima como sendo de causas naturais. Muitos dos mortos pela repressão tinham no laudo médico o suicídio como a causa mais comum, vários foram os “suicidas” da ditadura.
Meninas e meninos, senhores e senhoras, dentro da DOI-CODI não havia separação de gênero, idade ou religião, não havia privilégio, não havia nada, todos os “presos políticos” eram terroristas, e deveriam ser eliminados em nome da “Ordem e do Progresso”.

Demorou 21 anos para que a Ditadura militar brasileira acabasse, e junto com ela todas as atrocidades que ocorreram, mas ainda hoje, 50 anos depois do termino do regime, as marcas permanecem em todos os brasileiros, direta ou indiretamente. Mas sempre há a esperança de um futuro onde todos os lutadores recebam a justiça pela qual tanto lutaram.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Desaparecidos durante a Ditadura Militar

Durante a ditadura , além de torturas , houveram muitos desaparecimentos nessa época. Pessoas que tinham ou eram suspeitas de terem ideias contra o governo e jornalistas que tentavam mostrar a censura das reais noticias eram os desaparecidos mais comuns. Nos jornais ora noticiavam algum acidente com a pessoa que havia sumido ora não noticiavam nada; ou seja, mesmo passado muito tempo ainda não descobriram ao certo o que aconteceu com algumas pessoas desaparecidas e suas famílias esperam alguma resposta até hoje.  
Um exemplo conhecido é o  ex-deputado Rubens Paiva . Este caso está em aberto ainda, e recentemente descobriram ,através de denúncias, cinco militares suspeitos de homicídio e ocultação de cadáver. Porém o militar cuja casa constava as provas do homicídio foi encontrado morto mês passado. Então, o caso prossegue como muitos outros que ainda não tiveram uma solução. 
Com um grande pesar muitas famílias após anos de procura pela pessoa decidem fazer um enterro, pois não aguentavam mais a espera e a angústia sobre talvez a pessoa querida estivesse morta. 
Afim de solucionar esses casos criaram a "Comissão da Verdade", que seria uma forma de examinar e esclarecer as graves violações aos direitos humanos com a finalidade de efetivar o direito á memoria e á verdade histórica e promover a reconciliação nacional. 
Com essa comissão puderam descobrir alguns suspeitos e algumas verdades sobre a época, como torturas, homicídios, ocultação de cadáver e etc... 
Contraposta a essa comissão há a Lei de Anistia, a qual protege os militares envolvidos na ditadura ,que visa a ideia de "esquecimento" e "perdão" relacionados a época. Com isso a situação permanece indeterminável , porque ambos os lados exauriram suas energias. Erraram e acertaram, e esses acontecimentos são vistos ate hoje em uma grande discussão. 




Bibliografia: http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2014/05/19/mpf-acha-provas-na-casa-de-malhaes-e-denuncia-5-por-morte-de-rubens-paiva.htm 
http://noticias.terra.com.br/brasil/desaparecidos-da-ditadura/

Sete tons de Rosa: Alana Rhenns, Bárbara Gonzalez, Fernanda Sanz, Gabriela Zapparoli, Katharine Prytulak, Luiza Secco e Thaís Barros

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Economia durante a ditadura militar no Brasil.


Economia durante a ditadura militar no Brasil.

Olhando para trás.

  Pretendemos explicar sucintamente o que foi a economia durante a ditadura militar no Brasil, que perdurou de 1964 até 1985. Para isso, entretanto, voltaremos poucos anos antes de 1964.
  Durante seu governo, Juscelino Kubitschek emplementou medidas político-economicas que muitos caracterizam como desenvolvimentistas, ou seja, que visavam o desenvolvimento socio-econômico em geral. Investindo prioritariamente na indústria automobilística, Juscelino deixou uma economia encaminhada após seu governo, mas que pelo processo de transição econômica exigia cuidados. Após sua saída em 1961 ocorreu o que muitos ja previam: o governo de Jânio Quadros, talvez pela sua curta duração, não foi capaz de organizar o país economicamente a fim de conter a inflação que surgira durante a transição entre os governos.
  Ao assumir, João Goulart tomou medidas para conter a inflação de maneira rápida. Contudo, essas medidas fracassaram. Logo após o incidente, Goulart colocou em vigor um projeto que visava manter o ritmo de crescimento que JK havia estabelecido e, mais importantemente, conter a inflação que começava a fugir do controle. Construído em apenas 3 meses e com diversas medidas contraditórias, o chamado plano trienal não foi suficiente para conter a crise.

A ditadura. -64/67

  Após o famigerado golpe civil-militar de 1964 estabeleceu-se a ditadura militar no Brasil. Em um primeiro momento, o governo de Castelo Branco inaugurou políticas de estabilização econômica a fim de recuperar a economia nacional, então em baixa. Para atingir esse objetivo criou o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), o Banco Central e a correção monetária. O governo utilizou a pequena confiança que essas políticas inspiravam no mercado internacional para atrair, juntamente com a reforma tributária, investidores que antes evitavam investir no Brasil em decadência.
  A repressão exercida pelos militares na sociedade civil permitiu a eles a adoção de medidas econômicas que, em um período democrático, certamente gerariam represália. Um exemplo claro desse fenômeno é a diminuição dos salários, que eram ajustados com base em uma previsão (coincidentemente sempre falha) da inflação do ano que estava por vir. Tal medida foi importante pois permitiu ao empresariado continuar com seus investimentos, infelizmente, às custas do povo brasileiro.
  A construção de obras de grande porte movimentava enormes quantias de capital nacional e estrangeiro, além de gerar muitos empregos e gerar entusiasmo na população, que olhava maravilhada as obras estonteantes.
  O projeto governista ainda investia no setor de bens de consumo duráveis, auxiliando monopólios nacionais e internacionais envolvidos nesse tipo de indústria. O fortalecimento econômico também afetava o setor agrário, um dos mais importantes dentre os setores nacionais, recebendo investimentos governamentais maciços. O processo fica evidente quando o Brasil ganha o título de maior produtor de soja do mundo.
  O Governo de Castelo Branco portanto, foi economicamente caracterizado pela diminuição da inflação, que caiu para 34% em 1965.

O milagre econômico. - 68/73

  Na transição para o governo de Costa e Silva ficou evidente a intervenção estatal. O governo além de controlar: crédito, Banco Central, correção monetária e faixa salarial; agora se preocupava também com o preço dos produtos ofertados.
  Procurando aumentar o então crescente investimento estrangeiro no país o governo incentivou os bancos a reduzir seus juros, resultando em um crescimento na produção industrial de bens duráveis. Televisões e carros começaram a ser produzidos em larga escala, chegando às residências dos populares que ainda não haviam recebido benefícios concretos da prosperidade econômica. Todo o processo só foi possível graças à reorganização do sistema financeiro nacional e da alta do mercado internacional. Contudo, não se pode deixar de perceber que como aqueles que estavam adentrando o mercado de trabalho se sujeitavam a baixos salários, e a mão de obra qualificada era muito bem paga, intensificou-se o processo de má distribuição de renda no Brasil.
  A transição para o governo Médici não fez com que houvessem grandes alterações no quadro econômico; tal que o ministro mais influente de Costa e Silva, Delfim Netto, foi também principal ministro durante o governo Médici.

Os últimos suspiros – 74/79

  Observava-se, entretanto, que o crescimento de 10% ao ano que o país chegou a ter não era fruto apenas de seus próprios esforços,  e sim de recorrentes empréstimos internacionais. Além disso, a atuação monopolista incentivada por Castelo Branco levou ao sucateamento da indústria nacional durante o Milagre.
  Ainda durante o governo Médici surgiram críticas ao processo econômico vigente. Renomados economistas alegavam que o modelo levava a uma destribuição muito desigual da riqueza gerada. Afirmavam também que a desigualdade era fruto da falta de oportunidade de estudo aos menos favorecidos. Contudo, essas críticas eram simplesmente ignoradas pelo governo e pela sociedade civil em geral, pois o país continuava crescendo.
  A situação se sustentou até o momento da chamada crise do petróleo, que elevou de maneira inimaginável o preço médio do petróleo. Assume pouco após o occorido o presidente Geisel; em uma época na qual o páis importava 70% do petróleo que consumia.
  Diferentemente da maioria dos países, o Brasil tentou continuar com seu alto ritmo de crescimento mesmo durante a crise do petróleo. Nesse período entre os governos Geisel e Figueiredo, importantes setores foram reforçados, como por exemplo o de Energia: com a construção da usina hidrelétrica de Itaipu e do programa nuclear de Angra dos Reis. Todavia, houve uma queda no crescimento nacional e o início de um processo de endividamento, fruto do alto preço do petróleo no mercado.
  Já no governo Figueiredo, o Brasil tem de pagar o que deve, e então tivemos a Década Perdida.

 Bibliografia:

http://www.acervoditadura.rs.gov.br/
http://www.fgv.br/
http://www.cartacapital.com.br/
http://arte.folha.uol.com.br/

Novilhos:
Tiago Rocha  
Thales Platon 
Lucas Ibelli 
Michel Moreira 
Luiza Beck 
Jullia Pontes 
Thiago Cristofolini 




Dossiê Ditadura Militar: A resistência

No período em que o Brasil se encontrava sobre um duro Regime Militar instaurado na década de 1960, houve muito medo. Como em uma "bolha", os a maioria dos cidadãos tiveram que viver de cabeça baixa, resignados com o a situação antidemocrática em que viviam, e, muitas vezes, alienados pelas ferramentas de poder do governo, apoiavam. Porém, há os que se recusaram a aceitar a imposição militar e lutaram por um país melhor e com uma ampla democracia. Lutaram por um país de todos e não só das minorias. Lutaram com armas, ideias e corações. Nosso dossiê retrata as resistências tanto "pacificas" quando "agressivas" feitas por esses lutadores, além de retratar sobre a Guerrilha do Araguaia, palco do maior movimento de resistência ao Regime Militar. 

A guerrilha do Araguaia

Entre a década de 60 e o começo da década de 70 surgiu um grande movimento guerrilheiro de resistência ao Regime Militar Brasileiro em certas partes das margens do Rio Araguaia. Esse movimento que se desenvolveu durante esses anos e foi palco de diversos conflitos entre os guerrilheiros rebeldes e os militares é chamado de Guerrilha do Araguaia.
   Basicamente, a guerrilha Araguaia foi composta por mais ou menos oitenta membros do PCdoB (Partido Comunista do Brasil), que tinham como objetivo realizar uma revolução socialista no país, auxiliados pelos camponeses locais; revolução que tinha ocorrido do mesmo modo em Cuba e na China, por exemplo.
   O grupo atuou principalmente próximo as cidades de São Geraldo do Araguaia (PA) e Xambioá (TO), que se localizam ao longo do Rio Araguaia, na divisa entre as fronteiras do Maranhão, do Pará e de Goiás. 
    Essa grande região é constituída de grandes florestas, incluindo parte da selva amazônica, e de clima quente e úmido: típico clima tropical. Sua população na época era majoritariamente constituída de migrantes nordestinos, que fugiam da seca nordestina em busca de melhores condições de vida e até de enriquecimento pelo garimpo. Portanto, era uma população extremamente humilde, com pouquíssima qualidade de vida (como indica as altas taxas regionais de analfabetismo da época) e que vivia sob muita miséria. A população também vivia situações de exploração em relação aos grandes latifundiários locais que produziam mandioca e castanhas-do-pará em suas terras.
    Devido a essa situação de grande miséria e exploração, a região era considerada pelos rebeldes como o local perfeito para a revolta popular que originaria uma Revolução Socialista no Brasil. Os (aproximadamente) oitenta militantes vinham principalmente da região sudeste do país e possuíam uma sólida formação política e militar, coordenada pela cede do PC do B em São Paulo. O grande interesse dos desestabilizadores do regime militar em propagar o ideal revolucionário pela região foi causado pelo endurecimento do regime através do Ato Institucional nº 5, que proibia a existência de partidos políticos. Deste modo, em poder atuar democraticamente, o partido comunista optou por realizar, clandestinamente, através da guerrilha e de armas, a resistência contra a ditadura.
    Dos oitenta rebeldes, menos de vinte sobreviveram, além de possíveis setenta mortes e desaparecimentos dos moradores locais que foram torturados e perseguidos pelos militares ao apoiarem os guerrilheiros.
    Chamados de “paulistas” pelos moradores locais, os combatentes aos poucos chegaram ao humilde lugarejo e transformaram a região: além de abrirem pequenos estabelecimentos e comércios, passaram a prestar ajuda médica e farmacêutica aos moradores e os ensinaram a ler. Deste modo, tornaram-se muito queridos pelos “caboclos” que os ajudavam a se esconder das futuras operações militares criadas para acabar com a guerrilha, dando-lhes alimento e moradia.
    Entre os combatentes que lutaram nas terras do Araguaia, muitos nomes se destacaram, como, por exemplo, os nomes de João Amazonas (líder do partido comunista); Elza Monnerat; Gilberto Olímpio Maria; André Grabois e seu pai Maurício Grabois; o famoso Osvaldo Orlando de Costa, conhecido como Osvaldão; e o político José Genoíno.
    Devido a desistências de alguns combatentes e a delação de outros, logo o governo ficou sabendo dos ideais revolucionários que ocorriam na região, principalmente devido à ajuda de Lúcia Regina Martins, conhecida como Regina, que abandonou grávida, a guerrilha para se tratar de uma doença hepática e acabou sendo capturada pelos militares. Na época, os órgãos de repressão política finalizavam o extermínio da guerrilha urbana. Em 1968, quando começaram as primeiras ações das guerrilhas urbanas, a ditadura militar foi pega de surpresa e enfrentou dificuldades para contê-la. Nessa época, os órgãos de repressão política tratavam de por fim às guerrilhas urbanas. Em 1972 o governo soube da existência da base guerrilheira no Araguaia.
  Em abril daquele mesmo ano, iniciou-se a Operação Papagaio, uma pequena equipe de cinco homens na frente seguida por um batalhão de 400 homens que se espalharam pelas pequenas cidades locais, armando bases para espionar os guerrilheiros. Ao longo da operação, acredita-se que se instalaram 1500 militares nessas bases usando a desculpa de ser uma manobra do exercito pernambucano. Postos de controle foram montados na Transamazônica e na Belém-Brasília e uma base aérea aberta em Xambioá. O posto de comando foi instalado numa casa de telhado azul, às margens do rio Itacaiúnas. Os primeiros ataques a bases da guerrilha não conseguiram capturar ninguém, foram achados apenas materiais usados pelos guerrilheiros, pois eles se refugiaram na mata. Mesmo sendo um número muito pequeno comparado aos militares, eles resistiram; resistiram a uma repressão violenta, comparável a Canudos, com mais de cinquenta mortos entre os militantes do PC do B, além de moradores da região.
 Em 1974, já não havia mais guerrilheiros no Araguaia. O exército procurou não deixar nenhum vestígio dos corpos dos militantes exterminados e impôs um silêncio absoluto sobre a guerrilha - conhecido como Operação Limpeza, em 75, proibindo a imprensa de falar sobre isso e o exército negando a existência de tal movimento, com medo que o exemplo fosse seguido. A Guerrilha do Araguaia é, ainda hoje, um episódio na história brasileira muito pouco conhecido, que vem sendo redescoberto na medida que surgem novas pesquisas, documentos e entrevistas. 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Relato de Lídia Maria de Melo sobre a ditadura


Meu nome é Lídia Maria de Melo. Em março de 1964, quando ocorreu o golpe militar, eu tinha 6 anos de idade. Minha família foi atingida diretamente por esse fato político e histórico que desencadeou uma ditadura militar com duração de 21 anos. Assim, tornei-me  uma criança que viveu, percebeu e sentiu aquele ano e todas as consequências que vieram posteriormente.
Além de formada em Jornalismo, pela UniSantos, sou graduada em Letras, pela Faculdade Don Domênico, e mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Este ano (2014) comecei o curso de Direito.  Sou jornalista, professora universitária, ganhadora do Prêmio Jornalístico de Anistia e Direitos Humanos Vladimir Herzog/97 e autora do livro Raul Soares, Um Navio Tatuado em Nós. Esse navio serviu de presídio político no Porto de Santos, de abril a novembro de 1964.
Meu pai, Iradil Santos Mello tinha 34 anos de idade quando o golpe foi deflagrado. Era portuário e membro da diretoria do Sindicato dos Operários Portuários de Santos, São Vicente, Guarujá e Cubatão, atualmente Sintraport. Como esse sindicato era muito ativo e composto por pessoas muito politizadas, meu pai foi acusado de ser subversivo. Acabou preso no Dops (Departamento de Ordem Política e Social) de Santos e depois no navio Raul Soares. Na época, minha mãe estava com 26 anos.  Minha irmã mais velha tinha  8 anos  e a mais nova era recém-nascida (4 meses de vida). Eu, como mencionei acima, tinha 6 anos.
Antes do golpe militar, nossa rotina era comum. Não víamos televisão, porque a TV ainda era objeto raro nas casas. O rádio era o nosso meio de comunicação. E nós costumávamos acompanhar o Jornal Falado Tupi, apresentado pelo jornalista Coripheu de Azevedo Marques. Meu pai lia o jornal Última Hora, de Samuel Wainer, e comentava as notícias na nossa presença. Então, éramos crianças que acompanhavam os fatos que ocorriam. Eu e minha irmã mais velha estudávamos na escola que funcionava no mesmo prédio do sindicato ao qual meu pai pertencia, era destinada apenas a filhos de associados. Tinha um nível de ensino excelente.  Como integrante da diretoria do sindicato, meu pai tomou posse em 23 de novembro de 1963. Ele  trabalhava na Companhia Docas de Santos (CDS) desde 1955.
 Santos era uma cidade agitada políticamente e culturalmente. Abrigava a vanguarda do sindicalismo, representado pelo Fórum Sindical de Debates. Era um organismo que unificava o pensamento e a ação dos trabalhadores. Quando o Fórum convocava uma greve, a cidade inteira parava. Por isso, se disseminou a ideia de que Santos era uma cidade de comunistas e que os sindicatos eram subvencionados por Moscou e guarnecidos de armas.Depois do golpe militar, essa tese não se sustentou. Tanto que não houve resistência nenhuma à deposição do presidente da República, João Goulart.  Como dirigente sindical, meu pai esteve presente à cerimônia de assinatura da Lei de Remessas de Lucros, pelo então presidente, no Palácio Rio Negro em Petrópolis em janeiro. Por essa lei, as empresas estrangeiras só poderiam remeter para suas matrizes 10% de seus lucros. O restante deveria ser aplicado no Brasil. A lei foi revogada assim que o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco tomou posse. Meu pai participou ainda do Comício da Central do Brasil, em 13 de março, no Rio de Janeiro. O chamado comício das reformas de base. Ele também coordenou uma paralisação por melhores condições de trabalho no desembarque do navio Santa Tereza. Na ocasião, essas participações eram legais. Depois do golpe militar, foram usadas contra ele nos processos que se seguiram às duas prisões.
 A primeira ocorreu na manhã de  1°. de abril. Ele foi levado do sindicato para o Palácio da Polícia, onde funcionava o Dops. Nesse local, ele passou cerca de uma semana, embora os arquivos registrem que a prisão foi apenas por um dia. Informação totalmente incorreta. O sindicato foi invadido por policiais do Exército, fuzileiros navais, Força Pública, polícia civil. Segundo ele me relatou, havia uns 200 militares. Todos portando metralhadoras. Na detenção do Palácio da Polícia, meu pai ficou sem comunicação com a família durante todo o tempo em que lá permaneceu.
Na página 90 do meu livro, ele relata que o delegado chamado Benedito Lélis ‘comandava uma espécie de pressão psicológica’ com os presos políticos, fazendo perguntas aparentemente sem nexo, ameaçando e provocando pânico. Quando libertava algum deles, não informava aos que continuavam presos e apenas dizia: ‘Aquele já foi’. Como não se sabia para onde, os que permaneciam detidos se apavoravam, acreditando que a frase tivesse sentido de ‘aquele já morreu’.
Foram dias de tensão e muita insegurança para minha mãe e nós, filhas, que, apesar de sermos crianças, entendíamos que nosso pai não era ladrão, nem assassino, mas um preso político. Minha mãe não tinha como esconder de nós o que estava acontecendo. Ela fez várias tentativas de ver meu pai, mas não conseguiu. Depois ele contou que, como os demais presos, dormia no chão em cima de jornais na cela apertada, de onde foram soltos presos correcionais, para serem detidos os considerados subversivos. Ela conta que chegou a enviar um cobertor por um policial marítimo, mas esse cobertor nunca foi entregue. Quando foi solto, meu pai perdeu a função que exercia no Sindicato, porque toda a diretoria tinha sido destituída. E os sindicatos ficaram sob a direção de interventores. Meu pai retornou ao trabalho na Companhia Docas de Santos, mas semanalmente era obrigado a prestar depoimento e sofria pressão para acusar um colega do sindicato de ser comunista. Como ele não se prestava a esse papel, recebia ameaças.
Em agosto, acabou sendo preso novamente. Umas pessoas amigas, que compreendiam os perigos daquele momento, nos levaram embora de casa e retiraram também alguns livros de meu pai que poderiam ser comprometedores. Ficamos escondidas na casa desses amigos com muito medo por algum tempo. A segunda prisão de meu pai foi no navio Raul Soares, que tinha sido trazido do Rio em abril de 1964.
O navio foi construído em 1900 por uma empresa alemã e batizado de Cap Verde. Tinha capacidade para 587 passageiros. Transportava imigrantes da Europa para a América do Sul. Em 1919, foi vendido para a Grã-Bretanha. Em 1922, teve o nome trocado para Madeira. Três anos depois, foi comprado pela Lloyd Brasileiro e passou a ser chamado de Raul Soares, em homenagem a um político mineiro. Trouxe para Santos muitos migrantes do Norte e Nordeste do País. Já estava inativo no Rio de Janeiro, quando foi rebocado até o Porto de Santos, onde chegou no dia 24. Na semana seguinte, começou a receber prisioneiros políticos, acusados de subversão, por se oporem ao Governo Militar que havia deposto o presidente João Goulart no dia 1° de abril (de fato).  Depois de desativado como prisão no dia 23 de outubro, o Raul Soares foi rebocado de volta para o Rio na manhã do dia 2 de novembro de 1964. Acabou virando sucata, mas em Santos ele será sempre lembrado como um símbolo da repressão.
Em maio de 1982, escrevi o poema Apenas Um Navio, que registra a impressões que aquele navio deixou em mim. Está nas páginas 10 e 11 de meu livro Raul Soares, Um Navio Tatuado em Nós. Ainda no meu livro, na página 9, eu cito um outro poema, Filho de Um Estupro, de minha autoria e também datado de maio de 1982, que foi escrito a partir da lembrança que eu tinha do dia em que minha mãe chegou no pátio de nossa escola, no sindicato, e nós estávamos cantando.
Era final de tarde. Quando eu a avistei, percebi que a ponta do nariz dela estava vermelho. E imediatamente eu tive a impressão de que ela tinha chorado e imaginei que alguma coisa tinha acontecido com meu pai. Realmente, ele tinha sido preso. Pela segunda vez. Tinha sido levado para o Raul Soares.É um poema que expressa bem as angústias daqueles tempos e os traumas que se formaram. No navio, inicialmente meu pai ficou preso por um mês, depois foi decretada sua prisão preventiva. Após o término da prisão preventiva, o capitão dos portos, Júlio de Sá Bierrenbach, dizia aos presos que eles permaneceriam no navio por vontade dele. Ou seja, a legalidade caía por terra. Isso ocorreu com meu pai, assim como com muitos outros. Minha mãe recebeu autorização para visitarmos meu pai no navio somente uma vez. Na página 11 de meu livro, eu descrevo como foi essa visita:
‘‘Uma lancha apanhou-nos no porto, em frente à alfândega. Havia muitas mulheres, além de minha mãe e tia Neuza. E ainda outras crianças, além de mim (6 anos), minhas irmãs, Laura (8 anos) e Lúcia (nove ou dez meses), e nossa prima Sônia, de 3 anos. Desembarcamos perto da Ilha Barnabé, em um flutuante que balançava muito, amarrado no navio preto, adernado, o Raul Soares. Eu que sempre morri de medo do balanço de barca. Os policiais marítimos, com uniformes de mescla azul, estendiam as mãos para nos ajudar. Minha mãe com Lúcia, bebê, no colo, e aquela escada estreita, mole, tão insegura! Que medo de cair! Do flutuante, os policiais observavam nossa subida. E todas as mulheres e meninas de saia ou vestido. Naquele tempo, não era permitida a entrada de mulheres de calça comprida nos estabelecimentos públicos.
E eles lá embaixo olhando... Ódio é o que eu sentia! Por dentro o navio parecia maior.
Ficamos num salão repleto de mesas longas e... policiais marítimos. Não sei da sensação de rever meu pai, mas não me esqueço de que reclamei de dor de cabeça. Um policial trouxe um comprimido cor-de-rosa. Acho que Melhoral infantil. Recusei. Meu pai insistiu. Tomei, revoltada por ele ainda agradecer e sorrir para o ‘polícia’, como eu dizia. Pouco depois pedi para ir ao banheiro Tia Neuza me acompanhou. O polícia correu na frente. A privada estava suja e sem descarga. Ele forrou o fundo com papel higiênico. Ela não me deixou sentar.
Desde então, fiquei com ódio de todo e qualquer policial marítimo. Não podia ver farda de mescla azul. Ofegava, emburrada. Não houve outras visitas, porque eram proibidas. A Capitania dos Portos só permitiu aquela em uma tarde de sábado. Na volta, conforme a lancha foi se afastando em direção ao cais, as mãos que acenavam nas vigias foram ficando menores, menores... até que sumiram. Só restou a imagem incômoda daquele navio negro, que permaneceu tatuado em nós, como os números nos braços dos sobreviventes dos campos nazistas de concentração´´.
Não existem dados precisos sobre quantos homens foram presos no Raul Soares. Foram centenas. Alguns passaram dias, outros, semanas, outros, meses. Havia um certo rodízio. Nem todos se encontraram. Alguns ficaram em celas improvisadas. Muitos ficaram nos porões. As condições eram péssimas. A comida era da pior qualidade, segundo relato de ex-presos. Havia muita tortura psicológica e ameaça de se levar o navio para o alto-mar. Alguns eram postos em cubículos perto da caldeira, expostos à alta temperatura, e depois, eram transferidos para cubículos ao lado do frigorífico, local muito gelado.
Houve quem enlouquecesse, como foi o caso de Zeca da Marinha, com quem meu pai teve contato e me fez um relato doloroso, que também está em meu livro. Não havia assistência médica a bordo. O médico Thomas Maack, que era professor da USP e também prisioneiro, fazia atendimentos de emergência. Meu pai também me fez relatos sobre ele. Em 2003, 39 anos depois, eu o localizei em Nova Iorque e, após ler meu livro e de saber sobre meu pai, ele me deu uma longa entrevista, que resultou numa reportagem de página que publiquei no jornal A Tribuna. Depois, em fevereiro de 2004, ele veio a Santos somente para me conhecer.
Quando saiu do navio, meu pai foi demitido da Companhia Docas de Santos em 25 de setembro, sob a alegação de que tinha paralisado as atividades de descarga do navio Santa Tereza, em fevereiro de 1964. Os argumentos da empresa foram contestados na Justiça do Trabalho, mas a sentença favorável a ele só foi expedida em 1973. Na verdade, a demissão ocorreu porque ele era considerado comunista, subversivo. Ele também respondeu a processo na Auditoria de Guerra por ter parado esse navio. Além dessa questão trabalhista provocada pelas implicações políticas, ele foi denunciado em 21 de outubro de 1964, com base no Código Penal, sob acusação de subversão da ordem social e política, provocar paralisação de trabalho (greve), entre outras atividades.A sentença só foi proferida em 26 de março de 1971 (cf. páginas 103 e 104 do livro Raul Soares...) pelo Conselho Permanente da Justiça Militar.
‘Todos os réus foram condenados a um ano e dois meses de detenção, pelo crime previsto no artigo 9° da Lei 1.802/53, incluído no Decreto-Lei 314/67, que define os crimes contra a segurança nacional e a ordem social e política. A pena, porém, foi extinta, por prescrição’. Da acusação de subversão da ordem social por meios violentos, meu pai foi absolvido, assim como da de provocar greve.  
No meu livro, eu tento relatar um pouco das dores que nós sentimos naquele tempo e em anos posteriores, em que nosso pai ficou respondendo a processos e não conseguia arranjar emprego.
Ele sempre era demitido, quando descobriam que tinha sido preso político. Mesmo muitos que se diziam amigos nos viam como pessoas que mereciam o que estávamos passando, como uma forma de castigo por nosso pai ‘‘falar demais’’, ‘‘ser metido em política’’, ‘‘ser um subversivo, um comunista’’.
Em 1964, aos 34 anos, nosso pai estava no auge de sua vida produtiva e perdeu o emprego de nove anos. Nós ficamos sem direito a assistência médica, por exemplo. Com 26 anos de idade, nossa mãe teve que sustentar a nossa família e a nossa casa sozinha durante anos, além de garantir os nossos estudos e nossa assistência médica. Meu pai só conseguiu emprego em 1973 na Prefeitura de Guarujá.  Mas acabou sendo demitido em 1980, também por questões políticas.Em 1979, foi assinada a Lei de Anistia. Ele, que fazia parte do Comitê Nacional de Anistia, foi anistiado no início de 1980. Mas não foi aceito de volta na Companhia Docas de Santos. Então, foi aposentado compulsoriamente, como previa a lei. Ele recorreu à Justiça para poder garantir o direito de reassumir sua vaga na empresa. A readmissão só ocorreu em 1987. Ele permaneceu nas Docas até 1991, quando saiu por livre e espontânea vontade.
Depois que meu pai morreu, em 21 de dezembro de 1999, minha mãe requereu documentos do Dops sobre ele, e acabamos confirmando que ele era constantemente vigiado, conforme costumava suspeitar, mas nós mesmas da família chegávamos a achar que era somente uma mania de perseguição. Em um dos documentos, elaborado pelo Ministério da Marinha, com o carimbo de CONFIDENCIAL, são registrados dados sobre uma reunião realizada em 1969, com o nome de todos os presentes, entre eles, o de meu pai. Ele também fazia parte da lista de pessoas contra-indicadas para o contato com o Presidente da República. Nesse documento, trazia todos os dados dele e o classificava como comunista atuante.
Neste ano de 2014, 50 anos depois do golpe militar, que permitiu a instalação de uma ditadura de 21 anos, que nos privou de tantos direitos, acho que precisamos conhecer nosso passado e refletir sobre ele para construirmos um futuro mais sólido, menos vulnerável. Precisamos conhecer nossa História para saber que rumos queremos para o nosso país. E para não permitir que decidam por nós.
Depois de tudo o que passamos, o que eu mais prezo é a liberdade, a possibilidade de pensar livremente e me expressar. Eu não consigo conceber a vida sem liberdade de expressão. Durante os anos de ditadura, eu e minhas irmãs tivemos que tomar muito cuidado com o que falávamos na escola e posteriormente na faculdade.
Foram anos a fio, chegando em casa e comentando o que os professores nos explicavam e ouvindo nosso pai dar uma outra versão da história. E nossa mãe sempre alertando: ‘‘Cuidado com o que vocês falam! Cuidado com o que vocês falam!’’ Uma frase do escritor argentino Ernesto Sábato, que usei como epígrafe em meu livro, representa bem o que penso sobre ditaduras: ‘‘Não há ditaduras más e outras benéficas, todas são igualmente abomináveis’’.


Grupo: Gabriel Pestana, Helena Bernardes, Isabela Messias, Jéssika Fortes, Marcella Tavares e Victoria Naef.

sábado, 17 de maio de 2014

Índios e camponeses

Os índios estiveram durante a ditadura militar, e sofreram com as atrocidades cometidas, mas mesmo assim são poucos os comentários sobre esse assunto. Neste ano o Ministério Publico Federal (MPF), investiga mais violações de direitos humanos, cometidos durante a ditadura militar, contra o Povo Waimiri - Atroari ( Amazonas), o Povo Guarani (Paraná, em razão da construção da hidrelétrica de Itaipu) e outras, isso só demonstra que é um assunto que necessita de atenção. De acordo com o relatório da comissão da verdade, já foram descoberto 1.196 casos de trabalhadores rurais assassinados ou desaparecidos por razões ideológicas e disputas fundiárias no campo. Apenas 51 casos foram analisados pela CEMDP (comissão especial sobre mortos desaparecidos), e deles tiveram 29 causados devido à questão politica. Sendo então excluídos 1.145 casos de camponeses mortos ou desaparecidos. A SDH está estudando casos indígenas ao qual foram afetados principalmente devido à construção de estradas, e aqueles índios que não aceitavam as obras eram tratados como guerrilheiros. Em 2009 foi criado um grupo de violação dos povos indígenas (GT memoria e verdade), que foi criado para investigar violações de direitos humanos contra indígenas durante a ditadura, mostrando o conhecimento e a verdade dos fatos relativos à sociedade. Em 2011 foi criado o GT justiça de transição, que junto com a instituição nacional da verdade, abriu um debate sobre a questão da violação dos direitos dos povos indígenas durante a ditadura. Em 2013 foi criado o GT da 6 Câmara do ministério publico federal, esse trabalho esta sendo realizado para qualificar e quantificar as violações feitas aos indígenas durante o regime militar, pois é um assunto muito peculiar a se tratar, devido ser uma população vitima de genocídio e ações repressivas a muito tempo.
O relatório Figueiredo, é um documento contendo sete mil paginas mostrando assassinatos de índios, prostituições de índias, serviçais, trabalho escravo, usurpação do trabalho do índio, apropriação e desvio de recursos oriundos do patrimônio indígena, alienação do patrimônio indígena, cárcere privado, entre outros, esse relatório ficou desaparecido por 45 anos, e foi encontrado em 2013 no museu do índio do rio de janeiro.
Fontes:
http://www.progresso.com.br/opiniao/wilson-matos/ditadura-militar-nunca-mais

http://acritica.uol.com.br/amazonia/Violacoes-Waimiri-Atroatri-investigadas-MPF_0_1112288815.html

Tortura na Ditadura Militar


A tortura era utilizada, para conseguir confissões das pessoas envolvidas na militância contra o governo militar. No início do regime, os militares realizaram uma operação para verificar os suspeitos que estivessem ligados ao antigo governo ou a algum tipo de subversão. Foram tantas pessoas presas, que os presídios que existiam não foram suficientes. Com o AI-5, os jornais passaram a ser mais censurados e com a falta de divulgação da violência, os fatos de tortura tornaram-se cotidianos. Em 1969, a tortura teve seu período mais difícil no país. As guerrilhas estavam com grande atuação e ocorriam muitos assaltos a banco e, com isso, a repressão se tornou mais forte. Nessa época, foram criados processos para esconder as atitudes dos militares. As mais diversas formas de tortura eram praticadas e isso provocou uma onda de suicídios. Os métodos de tortura eram tão violentos e marcantes, que os preso não desejavam mais viver. O suicídio também foi utilizado pelos militares para justificar mortes de prisioneiros nos quartéis e presídios. Contando com a "assessoria técnica" de militares americanos que ensinavam a torturar, grupos policiais e militares começavam a agredir no momento da prisão, invadindo casas ou locais de trabalho. A coisa piorava nas delegacias de polícia e em quartéis, onde muitas vezes havia salas de interrogatório revestidas com material isolante para evitar que os gritos dos presos fossem ouvidos. "Os relatos indicam que os suplícios eram duradouros. Prolongavam-se por horas, eram praticados por diversas pessoas e se repetiam por dias", afirma a juíza Kenarik Boujikain Felippe, da Associação Juízes para a Democracia, em São Paulo.
Na fase mais violenta da ditadura militar brasileira, quando não mais restavam técnicas de tortura para arrancar delações de suas vítimas, os torturadores recorriam a um último expediente: usar os filhos dos presos políticos, fossem eles crianças ou mesmo bebês, na última tentativa para obter informações. Ou então, torturava-se em família: pais, mães, filhos, irmãos sofrendo juntos os horrores do cárcere.
Presa aos 26 anos no DOI-Codi (centro de repressão do Exército) de São Paulo, Maria Amélia Teles relembra o dia em que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra pegou nas mãos de seus dois filhos --Edson Teles, à época com 5 anos, e Janaina, com 4-- e os levou até a sala onde ela estava sendo torturada, nua, suja de sangue, vômito e urina, na cadeira do dragão. Na mesma sala estava o marido e pai das crianças, César Teles, recém-saído do estado de coma decorrente de torturas no pau-de-arara.
"Minha filha perguntava: 'mãe, por que você ficou azul e o pai verde?' Meu marido entrou em estado de coma e quando saiu estava esverdeado. E eu estava toda roxa, cheia de hematomas e ela viu aquela cor roxa como azul. Meu filho até hoje lembra do momento em que eu falava 'Edson' e ele olhava para mim e não sabia que eu era a mãe dele. Estava desfigurada", recorda Amelinha, como é conhecida.
Entre os diversos métodos de tortura, os mais comuns eram : A Cadeira do Dragão (uma cadeira eletrizada e revestida de zinco que possuía eletricidade. Os presos eram obrigados a sentar nela nus, e quando a eletricidade era ligada, eles levavam choques por todo o corpo. Em alguns casos, eles tinham sua cabeça enfiada em um balde de metal e também levavam choques.) , O Pau-de-Arara (Esse tipo de tortura já havia sido usada durante a escravidão. Nela, o preso era amarrado e pendurado em uma barra de ferro, que ficava entre os punhos e os joelhos. Nessa posição, eles ficavam nus e levavam choques, queimaduras e socos.), os Espancamentos (eram utilizados em conjunto com outros tipos de tortura. Um tipo comum, utilizado naquela época, era o chamado 'telefone', quando o preso recebia tapas nos dois ouvidos ao mesmo tempo. Isso era tão forte que poderia romper os tímpanos, causar labirintite e provocar a surdez.), os Afogamentos (Os torturadores obrigavam os presos a beber água por meio de uma mangueira introduzida em sua boca; porém, o nariz era tampado. Também colocavam os presos em tonéis ou tambores de água e seguravam sua cabeça até o ponto em que eles se afogassem.) e outros.
Apesar disso, nenhum torturador foi punido, pois o Congresso Nacional aprovou, em 1979, a Lei da Anistia. Com ela, as pessoas envolvidas em crimes políticos seriam perdoadas pela justiça, inclusive os torturadores.


Bibliografia:
http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quais-foram-as-torturas-utilizadas-na-epoca-da-ditadura-militar-no-brasil
http://governo-militar.info/mos/view/Torturas_no_Regime_Militar/

http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2014/03/31/como-a-ditadura-sequestrou-criancas-e-torturou-familias-inteiras-para-obter-delacoes.htm