quarta-feira, 21 de maio de 2014

Dossiê Ditadura Militar: A resistência

No período em que o Brasil se encontrava sobre um duro Regime Militar instaurado na década de 1960, houve muito medo. Como em uma "bolha", os a maioria dos cidadãos tiveram que viver de cabeça baixa, resignados com o a situação antidemocrática em que viviam, e, muitas vezes, alienados pelas ferramentas de poder do governo, apoiavam. Porém, há os que se recusaram a aceitar a imposição militar e lutaram por um país melhor e com uma ampla democracia. Lutaram por um país de todos e não só das minorias. Lutaram com armas, ideias e corações. Nosso dossiê retrata as resistências tanto "pacificas" quando "agressivas" feitas por esses lutadores, além de retratar sobre a Guerrilha do Araguaia, palco do maior movimento de resistência ao Regime Militar. 

A guerrilha do Araguaia

Entre a década de 60 e o começo da década de 70 surgiu um grande movimento guerrilheiro de resistência ao Regime Militar Brasileiro em certas partes das margens do Rio Araguaia. Esse movimento que se desenvolveu durante esses anos e foi palco de diversos conflitos entre os guerrilheiros rebeldes e os militares é chamado de Guerrilha do Araguaia.
   Basicamente, a guerrilha Araguaia foi composta por mais ou menos oitenta membros do PCdoB (Partido Comunista do Brasil), que tinham como objetivo realizar uma revolução socialista no país, auxiliados pelos camponeses locais; revolução que tinha ocorrido do mesmo modo em Cuba e na China, por exemplo.
   O grupo atuou principalmente próximo as cidades de São Geraldo do Araguaia (PA) e Xambioá (TO), que se localizam ao longo do Rio Araguaia, na divisa entre as fronteiras do Maranhão, do Pará e de Goiás. 
    Essa grande região é constituída de grandes florestas, incluindo parte da selva amazônica, e de clima quente e úmido: típico clima tropical. Sua população na época era majoritariamente constituída de migrantes nordestinos, que fugiam da seca nordestina em busca de melhores condições de vida e até de enriquecimento pelo garimpo. Portanto, era uma população extremamente humilde, com pouquíssima qualidade de vida (como indica as altas taxas regionais de analfabetismo da época) e que vivia sob muita miséria. A população também vivia situações de exploração em relação aos grandes latifundiários locais que produziam mandioca e castanhas-do-pará em suas terras.
    Devido a essa situação de grande miséria e exploração, a região era considerada pelos rebeldes como o local perfeito para a revolta popular que originaria uma Revolução Socialista no Brasil. Os (aproximadamente) oitenta militantes vinham principalmente da região sudeste do país e possuíam uma sólida formação política e militar, coordenada pela cede do PC do B em São Paulo. O grande interesse dos desestabilizadores do regime militar em propagar o ideal revolucionário pela região foi causado pelo endurecimento do regime através do Ato Institucional nº 5, que proibia a existência de partidos políticos. Deste modo, em poder atuar democraticamente, o partido comunista optou por realizar, clandestinamente, através da guerrilha e de armas, a resistência contra a ditadura.
    Dos oitenta rebeldes, menos de vinte sobreviveram, além de possíveis setenta mortes e desaparecimentos dos moradores locais que foram torturados e perseguidos pelos militares ao apoiarem os guerrilheiros.
    Chamados de “paulistas” pelos moradores locais, os combatentes aos poucos chegaram ao humilde lugarejo e transformaram a região: além de abrirem pequenos estabelecimentos e comércios, passaram a prestar ajuda médica e farmacêutica aos moradores e os ensinaram a ler. Deste modo, tornaram-se muito queridos pelos “caboclos” que os ajudavam a se esconder das futuras operações militares criadas para acabar com a guerrilha, dando-lhes alimento e moradia.
    Entre os combatentes que lutaram nas terras do Araguaia, muitos nomes se destacaram, como, por exemplo, os nomes de João Amazonas (líder do partido comunista); Elza Monnerat; Gilberto Olímpio Maria; André Grabois e seu pai Maurício Grabois; o famoso Osvaldo Orlando de Costa, conhecido como Osvaldão; e o político José Genoíno.
    Devido a desistências de alguns combatentes e a delação de outros, logo o governo ficou sabendo dos ideais revolucionários que ocorriam na região, principalmente devido à ajuda de Lúcia Regina Martins, conhecida como Regina, que abandonou grávida, a guerrilha para se tratar de uma doença hepática e acabou sendo capturada pelos militares. Na época, os órgãos de repressão política finalizavam o extermínio da guerrilha urbana. Em 1968, quando começaram as primeiras ações das guerrilhas urbanas, a ditadura militar foi pega de surpresa e enfrentou dificuldades para contê-la. Nessa época, os órgãos de repressão política tratavam de por fim às guerrilhas urbanas. Em 1972 o governo soube da existência da base guerrilheira no Araguaia.
  Em abril daquele mesmo ano, iniciou-se a Operação Papagaio, uma pequena equipe de cinco homens na frente seguida por um batalhão de 400 homens que se espalharam pelas pequenas cidades locais, armando bases para espionar os guerrilheiros. Ao longo da operação, acredita-se que se instalaram 1500 militares nessas bases usando a desculpa de ser uma manobra do exercito pernambucano. Postos de controle foram montados na Transamazônica e na Belém-Brasília e uma base aérea aberta em Xambioá. O posto de comando foi instalado numa casa de telhado azul, às margens do rio Itacaiúnas. Os primeiros ataques a bases da guerrilha não conseguiram capturar ninguém, foram achados apenas materiais usados pelos guerrilheiros, pois eles se refugiaram na mata. Mesmo sendo um número muito pequeno comparado aos militares, eles resistiram; resistiram a uma repressão violenta, comparável a Canudos, com mais de cinquenta mortos entre os militantes do PC do B, além de moradores da região.
 Em 1974, já não havia mais guerrilheiros no Araguaia. O exército procurou não deixar nenhum vestígio dos corpos dos militantes exterminados e impôs um silêncio absoluto sobre a guerrilha - conhecido como Operação Limpeza, em 75, proibindo a imprensa de falar sobre isso e o exército negando a existência de tal movimento, com medo que o exemplo fosse seguido. A Guerrilha do Araguaia é, ainda hoje, um episódio na história brasileira muito pouco conhecido, que vem sendo redescoberto na medida que surgem novas pesquisas, documentos e entrevistas. 

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