sexta-feira, 23 de maio de 2014

21 anos de sofrimento

“Cadeira do Dragão, Pau-de-arara, Choques elétricos, Espancamentos, Cama cirúrgica, Afogamentos, Soro da Verdade, Geladeira, Arrastamento pela viatura, Coroa-de-cristo, Estupros, Humilhações, Abusos sexuais...”. Esses são exemplos das torturas feitas a todos aqueles que eram considerados subversivos pelos militares, mas não representam nada, com relação ao sofrimento ao qual os que pensavam diferente foram submetidos.
Durante o regime militar, foram utilizadas algumas técnicas de controle social, sendo a tortura, uma delas, instalando-se no Brasil desde o primeiro dia que foi dado o golpe, em 1 de abril de 1964.
Através da censura e da propaganda manipulada, os militares controlavam grande parte da população, alienando-os, porém, ainda existiam grupos opositores, que não se deixavam gerenciar por essas formas de dominação social. Instaurando o medo, os militares mantinham parte dos opositores, calados.
Mesmo assim, ocorreram manifestações, protestos e lutas em prol de uma liberdade que muitos, durante o regime, não se lembravam, ou nem conheciam. Quanto mais tempo durava o regime, mais pessoas faziam oposição às barbaridades por ele cometidas.
Estudantes, padres, intelectuais e vários setores da sociedade passaram a contestar os militares, e a resposta era a intensificação da tortura, consequentemente, a sofisticação dos métodos ocasionava aumento no número de mortos.
Dentro dos porões da DOI-CODI foram feitas verdadeiras atrocidades contra pessoas, em sua maioria, culpadas por brigarem pelo direito de pensar e de ser o que se é, além de indivíduos culpados apenas por estarem no lugar errado, na hora errada, entre esses, muitos nem sabiam o que era comunismo, principal acusação contra os subversivos.
Nestas salas, muitas mulheres foram submetidas à impotência de ver seus filhos, entrando naquele ambiente imundo, sem entender porque suas mães encontravam-se nuas, extremamente machucadas, completamente aterrorizadas, e não poder fazer nada para evitar aquela visão.
Homens e mulheres foram forçados a ver seus companheiros sendo molestados por diversos torturadores, sem poder impedir.
Pais que não tinha a certeza do estado de seus filhos, nem se os encontrariam novamente foram obrigados a ouvir histórias de como os militares arrancariam a vida de suas crianças caso não colaborassem fornecendo informações úteis.
Grávidas foram obrigadas a dar seus bebês à parentes, sem ao menos segurar a criança, ou acabaram sofrendo aborto espontâneo devido a truculência dos torturadores.
Muitas vezes, as improbidades só terminavam com a morte do torturado, porém a angústia de familiares e amigos, dificilmente cessava, já que estes não detinham nenhuma informação sobre o estado ou localização de seus entes, nem antes ou depois da morte.
O militares preocupavam-se não apenas em desenvolver métodos sofisticados de tortura, mas em desenvolver a propaganda do “culpado”, sendo cada torturado seu próprio culpado.
O temível comunista que ameaçava a família, os bons costumes, a segurança nacional, e acima de tudo, a “Ordem”, assim, criava-se um preconceito contra os opositores, tornando-os merecedores de todos os suplícios que lhe eram impostos em uma sala de tortura.
Já os recrutados para exercer a tortura recebiam favorecimentos dos seus superiores, gratificações e reconhecimento de heróis, pois ajudavam a livrar o país da ameaça comunista.
Para resolver o problema dos mortos, médicos legistas passaram a fornecer laudos falsos, que escondiam as marcas da tortura, justificando a morte da vítima como sendo de causas naturais. Muitos dos mortos pela repressão tinham no laudo médico o suicídio como a causa mais comum, vários foram os “suicidas” da ditadura.
Meninas e meninos, senhores e senhoras, dentro da DOI-CODI não havia separação de gênero, idade ou religião, não havia privilégio, não havia nada, todos os “presos políticos” eram terroristas, e deveriam ser eliminados em nome da “Ordem e do Progresso”.

Demorou 21 anos para que a Ditadura militar brasileira acabasse, e junto com ela todas as atrocidades que ocorreram, mas ainda hoje, 50 anos depois do termino do regime, as marcas permanecem em todos os brasileiros, direta ou indiretamente. Mas sempre há a esperança de um futuro onde todos os lutadores recebam a justiça pela qual tanto lutaram.

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